quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Entenda: swap cambial, leilão de linha e venda direta de dólares

Banco Central tem instrumentos para intervir na cotação do dólar. 
Já o Ministério da Fazenda, se quiser, pode mexer na alíquota do IOF.


por Alexandro Martello

A alta do dólar é uma preocupação do Banco Central, pois tem impacto na inflação. Isso acontece porque insumos e produtos importados ficam mais caros e tendem a ser repassados aos preços finais.
Para interferir nesse mercado, o BC tem três tipos de instrumento: pode atuar com os contratos de "swaps cambiais", com os leilões de linha e com a venda direta de dólares do mercado.
Entenda como funcionam esses instrumentos:
Swap cambial  (Foto: G1)
Por meio dos contratos de “swap cambial”, o BC realiza uma operação que equivale à uma venda de moeda no mercado futuro (derivativos), o que reduz a pressão sobre a alta da moeda.
Os swaps são contratos para troca de riscos: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento desses contratos, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor deles e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.
Esses contratos servem também para dar “proteção” aos agentes que têm dívida em moeda estrangeira – neste caso, quando o dólar sobe, eles recebem sua variação do BC.
O BC vem usando os swaps desde junho de 2013, quando o dólar atingiu R$ 2,40. O estoque desses títulos hoje está próximo de R$ 370 bilhões (patamar do fim de julho). Mas quando o dólar sobe, o BC registra perdas: em 2015, até 18 de setembro, as perdas do BC com essas operações já somavam R$ 97 bilhões. Se o dólar cair, no entanto, o BC tem lucro com os swaps.
"Os swaps trazem a tranquilidade para que não haja desespero para sair [tirar recursos do país]. Se o sujeito está com o preço protegido, não há porque ter pressa. Isso é verdadeiro, tanto que o fluxo [de dólares para o Brasil] está positivo [mais de US$ 10 bilhões ingressaram no Brasil em 2015]", avaliou o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, especialista no mercado de câmbio.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Entra no ar o blog de Jornalismo Econômico do curso de Jornalismo da UFG


Este blog é dedicado à disciplina "Jornalismo Econômico", ministrada pelo prof.  Alfredo Costa do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (FICI/UFG).  Inclui produção de textos  dos estudantes bem como links para informações de interesse capturadas na rede pelo professor ou por alunos da disciplina.

O desespero com a alta do dólar é uma falácia midiática

por Otávio Ventura 


É notável o bombardeio midiático sobre “como o dólar está alto”. O discurso mais comum tem sido aquele que compara a cotação atual do dólar com a dos últimos anos, a exemplo da manchete “Dólar chega de novo ao maior nível em 12 anos”, veiculada pela Globo em 05-08-2015 por meio do seu Jornal Nacional.
(...) 
Mas, como bem apontaram Rodolpho Gamberini, há poucos dias, e Luis Nassif, há alguns meses, o que a grande mídia geralmente não revela é que a cotação que ela costuma usar em suas comparações cambiais é a nominal, ou seja, aquela que não considera a inflação. E isso faz toda a diferença.
Abaixo temos a inflação anual média dos últimos mandatos presidenciais, bem como a projeção da inflação para 2015:
dólar grafico 01                                                            Elaboração própria. Fonte: IPCA/IBGE

(...)
O dólar vale menos hoje do que em 1995
Em 1995, o dólar podia ser comprado a R$1, a preços da época. Em termos reais, esse R$1 de 1995 equivale a R$4 de 2015. Isso quer dizer que o dólar valia em 1995 o mesmo que R$4 valem em 2015.
A seguir temos a comparação entre a variação nominal e real da cotação do dólar:
dólar grafico 02                                 Elaboração própria. Fontes: IPCA/IBGE e Banco Central

A preços de 2015, o dólar valia cerca de R$4 em 1995, disparou a quase R$8 em 2002, recuou para perto de R$2 em 2010 e atualmente está na casa dos R$3,50. Sob a ótica real, é fácil perceber que o mantra midiático de que a cotação atual do dólar é “a mais alta em 12 anos” é pura falácia. Em termos reais, o dólar vale menos hoje do que valia em 1995. Sim, 1995, aquela época em que o dólar era “tão barato”. E se hoje o dólar estivesse tão caro quanto esteve em 2002, ele estaria valendo cerca de R$8.
Não se deixe enganar, estamos muito distantes disso.
Leia a íntegra do artigo de Otávio Ventura (mestrando em Ciência Política pela UnB e membro da carreira federal de Planejamento e Orçamento), publicado em 08/08/2015 na edição 862 do Obervatório da Imprensa.